As raízes das "Tunas" em Portugal remontam apenas aos meados do séc. XIX. Indubitavelmente, foi a visita da Estudantina de Santiago de Compostela, em 1888, que impulsionou em Coimbra à organização de um grupo congénere, a Academia Musical de Coimbra, também conhecida pela comunicação social por "Estudantina", e renomeada em 1896 por "Tuna Académica da Universidade de Coimbra". Sob a regência do Dr. Simões Barbas, esta Orquestra, composta por instrumentos clássicos e populares e interpretando sobretudo peças clássicas, realizou o seu primeiro espectáculo no dia 5 de Abril de 1888, em casa do Dr. Joaquim Martins de Carvalho, tendo sido logo convidada para tocar no dia 5 de Maio desse mesmo ano no "Teatro Coimbrã". À actuação do grupo principal seguiram-se outras actuações de outros grupos musicais, também representações dramáticas, brincadeiras cheias de irreverência. Na verdade, actualmente, as Tunas são um fenómeno cultural, secular que se encontra generalizado em Portugal, Espanha e América Latina, existindo apenas algumas tunas fora destas regiões. Se se fizer a cartografia do ensino superior em Portugal e comparar à das Tunas, a coincidência é gritante. Deste facto podemos também explicar porque razão o bandolim desempenha um papel fundamental na sonoridade das Tunas: Este instrumento terá sido inspirado no Alaúde deste Califa. Na verdade, os instrumentos eram, e ainda são (apesar de algumas alterações mais recentes), maioritariamente cordofones, pois isto permitia às Tunas andarem pelas ruas carregando-os. Só que há vários tipos de Tunas e alguns motivos conhecidos para a sua formação. Há tunas masculinas, femininas e mistas. Neste campo, a situação geográfica revela algumas curiosidades: enquanto que, no sul do país, cerca de 70% das tunas são mistas, estas são quase inexistentes quando se avança para o norte. Por outro lado, os motivos que levam ao aparecimento das tunas variam muito. Desde as que têm um projecto sólido e que fazem realçar as qualidades musicais dos seus membros, até às que aparecem por "eu-também-quero-pertencer-e-a-escola-até-me-dá-apoio-para-andar-a-beber-uns-copos". As instituições de ensino superior, quer sejam públicas ou privadas, têm interesse em financiar este tipo de actividades. Descartam-se da acusação de não apoiar as iniciativas estudantis e divulgam o nome da escola pelas várias terrinhas por onde estas passam. Começam também a patrocinar edições discográficas, que servem como fonte de financiamento e propaganda para as próprias tunas. Ultimamente, desenha-se uma clara separação entre bons e maus projectos. Há tunas que dificilmente sairão do circuito "casamentos-festas-romarias" e as que, pela sua qualidade, têm convites para ir ao estrangeiro. O concelho da Feira durante o século XIX foi impulsionador no aparecimento de várias formações musicais , estando a nossa localidade como a quarta em que criou a sua tuna , sendo a mais antiga a de Arrifana ( 1803 ) , Tuna do Soqueiro, seguindo-se a de S. Maria de Souto ( 1834) , Orpheon da Feira em 1856 ? , a ESTUDANTINA em 1870 e a TUNA ESPERANÇA de S.Maria Lamas em 1877. A nossa queda pelas causas musicais , já deve ser um dom natural destas gentes , cujas palavras do Padre José Queiroz relatava que na localidade o povo é muito dado ás tradições culturais , cujas raízes advêm das justas desde o tempo do seu fundador e da natural apetência pelas coisas rurais e religiosas . Esta gente muito crente , traz sempre presente , a Fé e a Crença, cantarolando diariamente como modo singular de afastar as maleitas . Estas páginas são antes de tudo uma Homenagem sentida aos ilustres tocadores, mestres, contra-mestres, gerações de gente humilde agarrada ás coisas da sua terra , os criadores das eternas melodias musicais : amadores mas com Arte , bem como os cantores de poemas escritos. É recordar o génio de amantes desta nobre Lira , gente que dedicou toda uma vida em prole desta terra , onde se associam os nomes como : - Joaquim Alves da Rocha ( ti Rocha) , Joaquim Macedo , João Tavares , Marques Pinto e Aires de Sousa , entre muitos outros heróis destas causas tão arreigadas . E como soi dizer-se , vou explanar nestas humildes páginas , uma história de quase 136 anos ,desde 1870 até aos nossos dias , resumindo os feitos desta humilde gente , narrando com grande paixão o quanto respeito e admiro, a gesta musical .
A ESTUDANTINA ( 1870 – 1908 ) Tal como as flores na Primavera , assim a Tuna se diz fundada no tempo da Monarquia , no ano de 1870. Após D. Luís , veio D. Carlos. Nessa altura já era conhecida por “Estudantina” . A “Estudantina “ foi uma das grandes responsáveis, a par de outras da região feirense , pelo desenvolvimento do gosto pela musica nesta e noutras terras circunvizinhas .( 2 ) E porquê denominação de “Estudantina “ ? Tudo se deve á vinda a esta localidade no ano de graça de 1868 , ano esse em que o Augusto Pinto de Almeida trouxe uma Tuna Académica para comemorar o fim de curso de Direito ; entre quem assistiu a tal função , estavam velhos entusiastas da localidade , que ficaram a partir de então de tal forma entusiasmados , que juraram formar uma tuna idêntica , constituída por instrumentos de corda friccionada . Impulsionados pela adesão de tal ilustre pessoa , que por sinal era tocador de violão , a Casa da Portela estaria ligada á génese da fundação através do seu feitor , Francisco Alves da Rocha ( Chico da Portela ), executante de violino e grande apreciador de Operetas , com a cumplicidade de : João da Nica , Manuel do Geno , João do Padeiro , Manuel da Modiga, Augusto dos Jerónimos e Joaquim Rosas. Estando a parte mais difícil conseguida que era terem apoios e executantes , não foi de admirar que a partir de então , impulsionados por outros radicais , abraçaram este projecto com pernas para andar . Começaram com meia dúzia de executantes inexperientes mas com enorme vontade de tocar , apresentando já em 1870, uma tuna constituída por uma dúzia de tocadores . No ano de 1872 a tuna ensaiava no lugar do Lodeiro nas instalações cedidas pelo Augusto dos Jerónimos , mantendo-se até 1890 , sempre dirigida pelo fundador , até que aparece nesse mesmo ano , o jovem Joaquim Alves da Rocha , sobrinho do Chico da Portela , que toma as rédeas da tuna ; com a sua chegada, a qualidade musical deu um enorme salto , criando juntamente com o seu amigo , Joaquim Macedo , a mini academia de ensino , no lugar da Praça , sendo a grande impulsionadora do aparecimento de novos executantes . De 1890 a 1898 a tuna passou de 10 executantes para duas dezenas , onde já não contava nas suas fileiras , nenhum dos fundadores , com músicos todos eles ensinados pelo mestre Joaquim Rocha e um reportório todo ele criado pelo mesmo. A tuna começou a tocar nas festas da região , tendo em 1896 , a convite da junta de Espinho , tocar a repique com a Banda do Soqueiro , sendo recebida entusiasticamente e muita aplaudida pela população local. “ Foi inaugurado em 20 de Agosto o Teatro Aliança , em Espinho , em que teve como ponto alto a actuação de duas bandas de musica , uma de Paços de Brandão , terra do nosso Comendador Correia Leal e a outra do nosso tão querido maestro , a Banda do Ti Soqueiro “.(3) Desse episodio foi tirada uma foto onde se encontram 16 executantes , mas salientam-se a ausência de alguns que faziam parte da “ESTUDANTINA “: Chico da Ferreira e António Carvalho , onde esta gente começou a aprender a tocar por musica em 1888. |
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