segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O REFORÇO QUALITATIVO DAS TUNAS DE 1912 -1925



Após a chegada de João Alves Lopes Tavares em Dezembro de 1911 a Tuna Velha mudou de rumo e começou a recuperar dos três anos em que esteve algo passiva , em que apesar da boa vontade dos elementos e especialmente do Joaquim Macedo não tinha capacidades de competir com a Tuna rival do Rocha , por isso era bem complicada a função deste regente em levantar a moral em baixa dos elementos fiéis ao seu contramestre . Aos poucos o Tavares foi recuperando essa confiança , recrutando da zona do Porto alguns tocadores que vieram emprestar a esta tuna uma qualidade nunca atingida , ao ponto , de em menos de três meses fazer a primeira actuação no Teatro Aliança em Espinho , no dia 4 de Fevereiro de 1912 conforme relatava o semanário <>:

- a 4 de Fevereiro pelas 20,30 horas no Teatro Alliança promoveu por iniciativa do <> uma comédia em 3 actos , do Teatro Nacional de Lisboa , imitação de Aristides Abranches , numa récita em homenagem ao dr. Manoel Laranjeira ; no 2º- acto o corpo cénico do Grémio representou a peça “ Naquele Engano da Alma “, de novo em cena depois da apoteótica representação aquando da sua primeira representação. Nos intervalos tocará a aplaudida sob a regência do distinto maestro sr. João Lopes, apresentando peças de sua autoria e operetas , o maestro deliciou a plateia com os trechos : La Favorita , a Sonâmbula , La Traviata e a arrebatadora Norma >>.

No mesmo período a Tuna Nova deslocou-se ás festas de Milheiros de Poiares arrebatando aplausos do publico local ,factor relevante da fama que á muito ultrapassara as fronteiras da freguesia , tendo sido convidada pelo Grupo 5 de Espinho numa grandiosa excursão a Águeda , sendo relatado o seguinte no jornal < Gazeta de Espinho >:

- Realizou-se no passado domingo 12 de Abril de 1912 a anunciada excursão a Águeda e Ponte da Rata , promovida pelo Grupo dos 5 desta praia , a qual decorreu até final sem o menor incidente desagradável, o que é digno de registo. Enfim poucas excursões se terão realizado com um programa tão atraente e que tenha deixado aos excursionistas tão gratas recordações , como a que promoveu o Grupo dos 5 . Abrilhantou a excursão a excelente <> , que executou vários trechos musicais do seu bem escolhido reportório , onde se sobressaíram por sugestão do regente, Joaquim Alves da Rocha : A Campanone , A Norma , La Muerte de Portici , a Marcha da Tuna Nova , Paços em Festa de 1912 , a Fantasia de Norma e a mais bela de todas : o Nabuco , á qual arrebatou a simpatia dos presentes . O Comboio excursionista partiu de Espinho ás 7,31 e regressou cerca das 21 horas. >.

A Tuna Velha voltaria de novo a ser solicitada pelo povo de Espinho , especialmente pelo “ Grémio Imparciais “ que com alguma assiduidade convidava esta tuna para abrilhantar os seus espectáculos :

“ no domingo 11 de Abril de 1913 , pelas 20,30 horas , realizou-se o espectáculo promovido pela direcção do “ Grémio Imparciais “, em beneficio das suas aulas de musica e canto , com o concurso do “ Orpheon de Espinho “, constituído por sócios do dito Grémio , sob a direcção artística do Ex.mo Sr. Dr. Fernando Matos e da Secção Cénica do mesmo Grémio , sob a direcção técnica de Zacarias Correia . Nos intervalos tocará a aplaudida TUNA VELHA DE PAÇOS DE BRANDÃO sob a regência do distinto maestro João Lopes , donde foram executadas algumas marchas e uma excelente versão de “LA FAVORITA “ , cuja plateia pediu a sua repetição no intervalo do 3º- acto da peça “ Como o diabo as tece “.. ( gazeta de espinho Abril de 1913 ).

Em Julho desse mesmo ano o Orfeão de Espinho relatava o seguinte :

Conforme prometemos no numero anterior damos aos nossos leitores , o programa da festa que o Espinho – Club promove hoje no Teatro Aliança , e em que se apresentará novamente o ” Orfeão de Espinho “,agora sob a proficiente direcção do Dr. Clemente Ramos , de cuja competência é inútil falar , porquanto ainda está bem patente na memória de todos aqueles que tiveram o prazer de assistir á brilhante festa do colégio externato de Espinho a extraordinária impressão que causou o Orfeão Infantil , da qual é director. O espectáculo de hoje , a que a excelente Tuna Velha de Paços de Brandão , sob a regência do distinto maestro , João Alves Tavares , vem prestar o seu magnifico concurso , vai pois marcar entre nós , e é o seguinte o seu esplêndido programa :

1ª- parte

Discurso de apresentação pelo sr. Fernando Matos e encenação coral do Orfeão , em três cantos com arranjos do maestro : coral ( Bach ) , adio alla pátria ( Mendhelson ) e o moinho ( Parlow ).

2ª- parte

A comédia em 1 acto de Cipriano Jardim , “ A SENHORA DA PAZ “ , com arranjos musicais de João Tavares e execução musical da Tuna Velha .

3ª- parte

Soireé musical com a participação conjunta do Orfeão e da Tuna Velha , onde vão a programa : hino á noite ( Rousselle) , canção do linho ( Tomaz Borba ) e rapsódia ( Henrique Salgado ).

Mais uma vez se aplaude a excelente prestação da Tuna Velha de Paços de Brandão , onde o apreço vai crescendo a toda a hora que passa . < GAZETA DE ESPINHO , JULHO DE 1913

Com o começo da Grande Guerra muitos dos jovens da nossa freguesia emigraram para as Américas , especialmente , Brasil e Argentina , e também para França , levando no alfobre alguns aficionados da musica , tendo a Nova Tuna a que mais sentiu com a saída de alguns elementos , donde pontificavam : Rogério Pinto Coelho , Joaquim Carvalho , Alfredo Serra , Viriato do Barroso , Carlos Pinto Vieira , entre outros , que conduziu a uma razia que quase fez extinguir esta tuna , só equilibrada em 1916 com a junção fraternal desta com a Tuna Cortegacense. Para se fazer uma ideia a Tuna Nova ficou reduzida a uma dezena e meia de elementos , parando quase por completo os serviços desta , ressalvando-se somente o orgulho e o entusiasmo dos elementos resistentes nos célebres embates de 1915 e 1916 nos campos da Fonte da Água Suja .

Em Junho de 1914 a convite dos organizadores das festas de S.João , de novo a Tuna Velha foi convidada nos festejos a abrilhantar as ditas festas :

<< assim o festival que aquela agremiação , a exemplo do ano anterior , promove no jardim , e que é destinado aos seus associados e ás famílias que contribuam por qualquer forma para o seu brilhantismo , terá no dia 23 , das 21 ,30 horas ás 2 da manhã , e em 24 , das 14 ás 19 e das 21 ,30 á 1 hora ; terá a abrilhantá-la a excelente TUNA VELHA DE PAÇOS DE BRANDÃO , que tão extraordinário agrado tem obtido entre nós , exibir-se-á , além duma quermesse em que figuram prendas de subido valor, uma interessante cascata , não mencionando outras surpresas destinadas a um ruidoso sucesso de gargalhada . No dia 28 e 29 de Junho em honra de S.Pedro no mesmo local haverá de novo , um arraial de festa , foguetes a cargo da pirotécnica de Macieira de Sarnes e musica pela banda da Carris do Porto ; o serviço religioso da Comunhão Solene das crianças no dia 29 estará a cargo da excelente TUNA VELHA de Paços de Brandão , cujo programa foi totalmente delineado para a mesma pelo conceituado maestro João Lopes . >>

Com a rivalidade ao rubro entre as duas colectividades e um povo dividido por afeição a ambas , os despiques começaram a se transformarem em verdadeiras áreas de discussão , quase virando em questões de estado local , tornando-se inesquecíveis os despiques entre ambas na saudosa Fonte da Agua Suja , onde entre 1913 e 1918 se tornou no verdadeiro pólo de atracção na freguesia , primeiro sob a tutela do padre Celestino até 1916 e com o padre Rodrigo até 1920 , que com o arranjo do Arraial retirou a importância que este local possuía. Como o poder local estava nas mãos de Joaquim Macedo , sendo este apoiante da Tuna Velha , as rivalidades cresceram de tal modo que as relações entre os dois regentes atingiram limites nunca imaginados , chegando ao cumulo de ambos serem proibidos de tocarem ao vivo , ou seja , era interdito ambas tocarem ao mesmo tempo , fosse onde fosse ; tal proibição felizmente não reduziu o entusiasmo dos músicos , que só seriam delimitados com a chegada da Guerra mundial 1914-1918, onde arrefeceu um pouco este entusiasmo com a inclusão de alguns jovens locais na participação da frente de combate , debilitando de certo modo ambas formações , adivinhando-se tempos difíceis na nossa região. Entre 1914 -1918 o maestro João Lopes instalou-se na nossa freguesia na casa do Macedo , tornando-se quase profissional dedicando-se quase por inteiro á composição e ensino de novos recrutas para a sua tuna , enquanto isso o regente TI Rocha se entretinha com as constantes tropelias com o seu ex - compadre e amigo , deixando mossas no campo da composição , dedicando-se cada vez ao negocio do fabrico de boiões e pandas , mas nunca deixou de compor , compunha era cada vez menos e de certo modo começava a se afastar da sua tuna , encostando-se aos poucos a outras tunas da região , chegando a formar a “Tuna Cortegacense “ em 1916 , indiciando que a passagem de testemunho estava a chegar.
Com o fim da guerra em 1918 , as gentes de Rio Meão convidou ambas para o despique das festas locais , na qual a Tuna Nova venceu a sua rival , num dos despiques mais renhidos de sempre e que empoleirou o TI Rocha , como o maior musico da freguesia .

Mas não se pense que o João Lopes e o Macedo aceitaram de animo leve esta derrota ,estavam cientes que esta tuna apresentava já uma qualidade razoável e pressentiam que a sua hora chegara a qualquer momento , tendo tal pressentimento acontecido nas festas de Rio Meão de 1922 , onde a Tuna Velha suplantou por grande avanço a sua rival e colocou –a na melhor formação que por cá existiu. Finalmente o João Tavares tinha vencido a sua batalha , em que se dedicou 10 anos á tuna do seu amigo e compadre , formando uma tuna composta por duas dezenas de violinos , um reportório novo com temas empolgantes , arranjos de corda inolvidáveis , colocariam o regente como o musico mais respeitado na região , que fariam que a partir de 1923 começasse a ausentar-se desta freguesia : 1º- casara em 1922 e radicou-se na sua terra natal , Vilar do Andorinho, 2º- a sua disponibilidade para com a tuna velha tornou-se cada vez menos assídua , porque chegou a ser regente nessa altura em quatro tunas ao mesmo tempo , deixando os destinos desta ao cargo do Manuel da Fonte e ao Macedo e 3º- com a saída do poleiro do Macedo e á falência financeiro deste , os dinheiros já não davam para manter o maestro por cá. Começou a partir de 1925 a notar-se uma certa crise na tuna velha , com a entrada e saída de músicos , arrefecendo aos poucos a rivalidade entre os apoiantes , terminando de vez com a renuncia de TI Rocha em 1926 das causas das tunas , á qual não está alheio a chegada á Junta da fracção republicana que constituiu um duro revés na causa monárquica. Para se fazer uma ideia do que passou com tudo isto as relações na freguesia atingiram tais proporções que foi preciso a que a câmara da feira pusesse como condição que se tal continuasse tomaria conta dos destinos da freguesia. As rivalidades degeneraram em ódios entre os manda chuvas , as tunas divididas e arrivistas , sendo necessário que tivessem tocado os sinos a rebate no tempo do Padre Maia, ao constituir uma pequena assembleia que restituiu á terra um pouco de paz e harmonia , resistindo por mais de dez anos , ou seja de 1926 a 1936 , caíram as proibições de delimitar a possibilidade dos músicos tocarem em ambas , chegando ao ponto de se adivinhar que mais dia menos dia , as tunas fundir-se-iam numa só , mas não evitou que ambas acabassem e ficamos sem tuna durante o período de 1937-1939. O fenómeno futebol não explica a crise , inclinando-me mais para duas datas como as causas de tudo isto : 1926 com a desistência de Joaquim Alves da Rocha e 1930 com a ida de vez do João Lopes para a sua terra natal , embora ambos ainda estivessem ligados esporadicamente , o entusiasmo há muito que acabara. Mas honra seja feita nisto a uma personagem que foi de uma importância vital , trata-se da figura de Joaquim Ferreira Macedo , que dedicou toda uma vida ás causas das tunas , chegando a desgraçar a sua fortuna , acabando o resto dos seus no esquecimento e duma quase miséria. Mas voltando ao inicio , nasceu em Paços de Brandão no ano de 1870 , era filho de Francisca de Romão e enteado do alfaiate Romão , faz parte da geração de 1885 em que refundou a Tuna Estudantina com o seu grande amigo J.A. Rocha e criou a primeira mini academia de musica de ensino no Arraial , criando uma onda de entusiasmo entre 1892 – 1897 uma verdadeira escola de músicos da região feirense consagrando a Tuna local como a melhor , onde se sobressaíam os violinos e os violoncelos , substituindo de vez a importância até então dada aos violões e aos banjolins. Tudo decorreu bem até ao desencantado ano de 1908 que por razões politicas e musicais criou uma zanga entre os dois amigos que conduziu ao fim da Estudantina e a uma zanga até ao fim das suas vidas , tendo essa ruptura causadora do aparecimento de duas tunas , que durariam até a 1937. Era vidraceiro de profissão , mas que tornar-se-ia corticeiro por influencia do seu compadre , no fabrico de rolhas e pandas , o que lhe rendeu algum dinheiro e alguma notoriedade na freguesia , que lhe garantiria a eleição de presidente da junta de 1913 a 1925 , cujo reinado foi um dos mais notáveis . Morreu esquecido e existe em tudo isto uma grande injustiça quanto ao tratamento dado pelos responsáveis locais .

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