domingo, 12 de setembro de 2010

MUSICA - o modo de ser duma terra e das suas gentes

Falar da nossa Tuna com dados e datas certinhas , é uma tarefa difícil hoje. Naquele tempo quem saberia ler ou escrevinhar? E dos que sabiam , quem arquivaria algo por escrito ? Apesar da escola primária para rapazes ter sido criada em 1856 , poucos foram os que se iniciaram na aprendizagem , pautando os filhos dos mais abastados , e os da maioria, camponeses ou operários , começavam muito novos a labutar e pouco entusiasmados em aprender a ler ou em escrever. Houve sempre gente curiosa que guardou em agenda ou papeis pessoais certos apontamentos , onde familiares guardaram-nos religiosamente em gavetas , felizmente ficaram longe de velhos bisbilhoteiros. Talvez fosse desses amarelados papeis ou arquivos que chegaram aos nossos dias duas datas : 1870 e 1895. As primeiras alusões escritas da existência duma Orchestra datam de 1896 em artigos dos jornais regionais da Feira e de Espinho , e , de actas da junta de freguesia de 1882 e 1892 , onde na primeira é referida a existência dum grupo de locais que adquiriram instrumentos para a Troupe Musical “ e a segunda do pedido da “ criação duma mini Academia de ensino de musica ,consignados por acção de Joaquim Alves da Rocha e Joaquim Macedo , por autorização do pároco José Castelão e dos membros da junta , Joaquim Rosas e Francisco da Ferreira , ambos membros da dita junta e membros da Troupe “. Por via oral os testemunhos de Aires de Sousa e de Lúcia Rocha , confirmaram por relatos de seus parentes , que esta tuna se denominava de Estudantina. Fora fundada no reinado de Dom Luís , por influencia do Padre José Henrique , pelo feitor da casa da Portela , ti Francisco Rocha ( tio de Joaquim Alves da Rocha ) tocador de violino e por outros entusiastas , onde se encontravam , Augusto Pinto de Almeida, dono da dita casa , formado em Direito e executante de violão. Se existe verdade nisto , não será por acaso a sua denominação de Estudantina, entusiasta que era o Augusto , diziam que “ no dia da sua formatura em 1868 trouxera a esta terra uma tuna de estudantes , que por arrasto converteu os músicos locais que já tocavam em Charangas e teriam conduzido á criação desta tuna “. Na bandeira velhinha está escrita o ano de 1870 : será a data oficial da sua fundação? A musica é das artes a mais subtil , é um laboratório imenso , neste se amalgamam correntes do saber humano e expressões de sentimentos íntimos. É UM ESTADO DE ARTE.

Esta bandeira de 1870 era um ex-libris , um dado indispensável , que desapareceu . Quem a tem ou onde estará ? Na história desta Tuna uma bandeira é um valor formidável. Mais que a bandeira , há coisas mais importantes : recordações de família , instrumentos velhinhos , retratos de formações e os nomes dos heróis. Em Paços de Brandão , a musica deve ser uma coisa espontânea , como os lírios na Primavera. Ainda hoje a Academia de Musica é uma prova disso : tanta gente a estudar musica . Valeria a pena descobrir raízes mais profundas , pois é no seio dum povo onde elas se encontram o nosso íncola, habitante característico , traz consigo tradições próprias e impostas. Por aqui divagaram , monges e cónegos regentes , sangue azuis , onde a musica era cultivada e ensinada , nos claustros e nos palácios , nos solares dos Pinto de Almeida e dos Brandões , por certo que , melhor que ninguém , nos poderiam revelar como nasceu a Tuna da nossa terra! Até hoje mentem-se a incógnita. Cada povo tem , o seu modo de ser , próprio , peculiar: Paços de Brandão não foge á regra.

Como únicas referencias existem fotografias , onde se datam os anos de 1896 e 1898 , de um grupo com instrumentos de corda , constituindo um documento de inegável valor. Refere-se à Estudantina ? Esta até pode ter sido criada anos antes , mas aqueles rostos tosados , a lembrar operários , a lembrar gente simples e despretensiosa , tudo aquilo tem grande importância para a história da tuna. O meu tio – avô , Ti Rocha foi um dos fundadores ? Sem querer puxar a brasa para a minha sardinha , as reportagens do saudoso Marques Pinto no NPB deixaram-me muito emocionado e criou na minha pessoa um entusiasmo de fazer a história das tunas . É também em jeito de homenagem que pactuo a todos os músicos , regentes , um louvor colectivo, para que não caia no esquecimento e as gerações futuras não conheçam o valioso património . Já possuo imenso espólio : tanto fotográfico como documental , onde em recortes de jornais se relatam as nossas tunas , tendo em minha posse o mínimo para a efectivação da feitura dum livro . Mas faltam ainda os testemunhos de familiares , fotos que possuam e acima de tudo uma colaboração de todos os brandoenses que estejam , directamente ou indirectamente ligados á nossa tuna , servindo de enriquecimento a esta historia.

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